Número de usuários da Uphold cresce 378% na América Latina e exchange quer usar criptomoedas para bancarizar a região assolada pela inflação.
Caio Prati Jobim
'Pessoas mais dispostas a adotar o Bitcoin estão excluídas do sistema financeiro tradicional', diz CEO da UpholdLutando contra a inflação alta e os efeitos perversos da dolarização de suas economias domésticas, países da América Latina já respondem por 25% dos 7 milhões de usuários da Uphold.
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A corrosão do poder de compra das moedas fiduciárias tornou-se um problema global na medida em que até a população norte-americana está assistindo à desvalorização do dólar. Este ano, o índice de preços ao consumidor dos EUA atingiu seu àpice nos últimos 13 anos.
No entanto, esta é uma realidade comum à maioria dos países da América Latina há muito tempo. Agora, o declínio da moeda dos EUA tem um efeito duplo sobre a diminuição do poder de compra dos cidadãos, sobretudo em economias dolarizadas ou muito dependentes do dólar, como a brasileira.
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Por isso, o continente lationamericano é considerado uma das regiões com maior potencial de crescimento do mercado de criptomoedas por JP Thieriot, CEO da exchange Uphold. Os próprios números mais recentes das operações da empresa por aqui são ilustrativos.
Os volumes negociados pela exchange no países do continente aumentaram 251% de um ano para cá, e o número de novos usuários cadastrados na plataforma da Uphold cresceu 378% no mesmo período.
Em primeiro lugar, as criptomoedas vêm sendo adotadas como proteção ao patrimônio. Torna-se cada vez mais dominante a narrativa de que o Bitcoin (BTC) é o ativo preferencial para reserva de valor em detrimento do ouro - e parte da população latinoamericana parece estar ciente disso.
No entanto, diz Thieriot, apenas em El Salvador, depois da adoção do Bitcoin como moeda de curso legal, na Colômbia e na Venezuela o investimento em criptomoedas é algo disseminado de forma mais ampla na sociedade, mas esse cenário está em transformação.
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Há um outro fator fundamental que faz com que Thieriot acredite que a adoção de ativos digitais na região deva aumentar ainda mais em um futuro próximo:
A maioria dos outros países ainda tem porções bastante pequenas de sua população engajadas com as criptomoedas até agora, mas esse número está crescendo rapidamente. El Salvador deve ser um catalisador para isso. As pessoas mais dispostas a adotar o Bitcoin são aquelas que não têm conta bancária, que estão excluídas do sistema financeiro. E eles são muitos. E tem aqueles que enviam ou recebem remessas, o que também é muito comum por lá.
A confiança de Thieriot baseia-se em sua própria experiência e ligação com a América Latina, uma vez que o CEO da Uphold é natural da Argentina. Segundo ele, a aceitação do Bitcoin em El Salvador aponta para a necessidade de oferecer serviços financeiros àquelas porções da população que não têm acesso ao sistema bancário ou são mal atendidas por ele.
E é nesse vácuo que a Uphold enxerga espaço para crescer, contribuindo para ampliar a adoção de cirptoativos na região, diz Thieriot:
Incorporar os desbancarizados é um dos principais pilares filosóficos e práticos das criptomoedas. Isso significa oferecer às pessoas, pela primeira vez, acesso a serviços financeiros que rivalizam ou superam àqueles disponíveis no sistema legado tradicional. Isso significa que as famílias que dependem de remessas não precisam ter 10-20% de sua renda sendo consumida por empresas de transferência de dinheiro. Isso significa que, literalmente, qualquer pessoa pode começar a construir uma carteira de investimentos. Basicamente, isso mudará o seu padrão de vida.
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Embora entenda que os projetos de implantação de moedas oficiais de bancos centrais (CBDCs) que estão em curso em diversos países latinoamericanos, inclusive no Brasil, podem rivalizar com as criptomoedas, Thieriot acredita que os dois formatos de dinheiro digital não são excludentes e podem conviver harmoniosamente.
Segundo ele, cada um cumprirá um papel diferente. Enquanto as CBDCs devem ganhar a preferência de empresários e lojistas para transações cotidianas, dada a estabilidade da cotação garantida pelos bancos centrais em contraste com a inerente volatilidade dos ativos digitais, o Bitcoin e as criptomoedas serão dominantes no que diz respeito aos investimentos financeiros:
“Certamente, cada nação não precisa fazer a sua própria [CBDC] e poderia facilmente adotar uma ou outra moeda já existente, mas também não há nada que as impeça. A esperança é que qualquer pessoa na região possa simplesmente intercaminar estes ativos se o sistema for funcional.”
Em sistemas flexíveis e bem estruturados, amparados em um marco regulatório saudável, que permita às pessoas utilizarem o seu dinheiro da forma que julgarem mais apropriada, as criptomoedas devem prosperar na região. “Eu ficaria surpreso se os criptoativos não vierem a fazer parte dessa história”, conclui Thieriot.
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